Um conjunto normativo instável,complexo,
antagônico e anacrônico. Assim podem ser descritas as mais de 75 normas que
regulamentam as contribuições do PIS e da Cofins, dentre as quais muitas
originadas por Medidas Provisórias.
Neste caldo heterogêneo e insensato há ainda um
emaranhado de normas infralegais que jamais foram submetidas ao Congresso: 76
Decretos, 19 Portarias, 88 Instruções Normativas, 43 Atos Declaratórios e uma
infinidade de soluções de consulta.
Somem-se a isto as incalculáveis decisões
judiciais, muitas delas contraditórias. Para se ter uma ideia do tamanho do
problema, 90% das demandas judiciais na área tributária têm relação direta com
as contribuições do PIS e da Cofins.
Tal situação justifica a enorme expectativa em
torno da simplificação das contribuições do PIS e da Cofins, que tem sido
anunciada por diversas autoridades. Em uma dessas declarações, o
secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, afirmou que
“chegou-se a um ponto em que a simplificação é boa para o setor privado e
também para a Receita Federal”.
Que será bom para o governo, não há dúvida. Além
de um provável aumento de alíquotas, estancar a sangria de recursos decorrentes
das disputas judiciais representará aos cofres um acréscimo significativo de
verbas.
Ainda é cedo para avaliar qual será o impacto na
carga tributária empresarial decorrente desse possível aumento de alíquotas.
Mas há um ponto de extrema relevância que deve ser considerado, sob a ótica
empreendedora.
O Sistema Público de Escrituração Digital (SPED)
têm obtido êxito no cumprimento de seus objetivos, premissas e benefícios, com
destaque para o combate à sonegação, integração dos fiscos e redução de custos
para o contribuinte.
Entretanto, a Receita Federal instituiu em 2010 a
Escrituração Fiscal Digital das Contribuições (EFD-Contribuições),
originalmente para controlar a apuração do PIS/Pasep e da Cofins, porém com o
escopo ampliado a partir da criação da Contribuição Previdenciária sobre a
Receita.
Milhões foram investidos em sistemas de
informação na tentativa de automatizar regras indefinidas, que ferem os
princípios básicos da engenharia de software, ao torná-los excessivamente caros
e complexos.
A complexidade normativa é tão instável e
detalhista que, apesar de 90,2% das empresas terem transmitido a
EFD-Contribuições com os arquivos no prazo estabelecido para as empresas
sujeitas à tributação do Imposto sobre a Renda com base no Lucro Real, ou seja,
14 de março de 2012, a maioria (68,5%) afirmou que pretende retificar a
Escrituração. Este é o resultado de uma insegurança quanto à qualidade do
conteúdo transmitido.
Até janeiro de 2013 a EFD-Contribuições abarcará
1,5 milhão de empresas, a maioria micro e pequenas. Uma verdadeira carnificina,
pois elas estarão sujeitas a multas mensais de R$ 5 mil por perda do prazo e 5%
do valor das operações no caso de informação omitida, inexata ou incompleta.
Por fim, considerando o cenário anunciado de
simplificação das Contribuições do PIS e da Cofins para 2013, há ainda várias
perguntas sem resposta.
Por exemplo, como ficam as empresas e
organizações contábeis que já investiram (e as que ainda estão investindo) em
tecnologia, capacitação e revisão de procedimentos para se adequarem à atual
realidade da EFD-Contribuições?
Ora, se já estão previstas mudanças estruturais,
certamente serão necessários novos investimentos.
Quem pagará essa conta? Por que não interromper
imediatamente esse projeto até que as novas regras sejam definidas? Por que
prolongar ainda mais o sofrimento?
Fonte: http://www.tiinside.com.br
Por : Roberto Dias Duarte, administrador de empresas e professor de pós-graduação da PUC-MG
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