ERP no reino da nota eletrônica
Em plena era do conhecimento, em grande parte promovida pela competência do Fisco ao tornar virtuais as informações que, durante séculos, a ele chegaram em papel, resta uma grande questão a ser resolvida pela maioria esmagadora das empresas brasileiras. Essa pendência histórica consiste na escolha e utilização adequada de um programa de gestão, o conhecido ERP.
A complexidade do processo começa na escolha, já que não existem duas organizações idênticas, mesmo que a natureza de suas operações possa se assemelhar, em função do ramo de atividade e do mercado atendido. Pelo mesmo motivo, uma vez adquirido o sistema presumivelmente ideal, começam as não menos intrincadas etapas de configuração, implantação e manutenção.
Ora, se toda solução do gênero é padronizada por mais que se tente customizá-la, um ERP considerar-se pleno e definitivo equivaleria à assinatura solene de seu atestado de óbito, uma vez que todo organismo vivo pressupõe a constante mutação.
O ponto central nisso tudo é que uma implantação do gênero normalmente se prende a aspectos tecnológicos, quando deveria seguir uma diretriz empresarial envolvendo não só as análises de custo/benefício e os riscos inerentes, mas – e principalmente – toda uma gama de possíveis novos cenários. Nada a ver, portanto, com a limitada visão até hoje preponderante, que acaba emperrando o desejável movimento de constante evolução.
Embora existam inúmeras adequações possíveis a um ERP, mediante a adoção de certas práticas, adaptações à realidade do mercado e, mais profundamente, a características peculiares de cada empresa, um mundo ideal nesse campo dependeria de softwares que enxergassem tendências e, consequentemente, ferramentas para serem usadas no futuro.
A ausência de uma verticalização de tal ordem se agrava pelo fato de vivermos num ambiente tributário onde surgem pelo menos duas alterações a cada hora, instituídas ao bel prazer por estados, municípios e governo federal. O grande problema é que toda e qualquer mazela nesse campo passou a romper instantaneamente as quatro paredes do negócio, encapsulada nos arquivos XLM que dão vida às notas fiscais eletrônicas.
O Fisco brasileiro, como já disse no início, saiu na frente e fez seu dever de casa para tornar-se mais eficiente ao coibir a sonegação, enquanto a maioria das empresas que a ele prestam contas, agora em tempo real, sequer tem consciência de qual sistema inteligente adotar para gerir melhor seu dia a dia.
Eis aqui um enorme desafio, que a exemplo de tantos outros já superados pelos desenvolvedores de software e seus clientes, certamente também está repleto de oportunidades. Mas apenas para os que se conscientizarem rapidamente de todo esse quadro e começarem a recuperar, o quanto antes, o imenso tempo perdido.
postado por Roberto Dias Duarte
Roberto Dias Duarte é professor, administrador de empresas com MBA pelo Ibmec, diretor de Alianças da Mastermaq Softwares e especialista em Certificação Digital, SPED e NF-e, com mais de 20 anos em projetos de gestão e tecnologia. É autor do livro "Big Brother Fiscal, o Brasil na Era do Conhecimento.
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