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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Os escritórios contábeis e o novo modelo de gestão

OPINIÃO




Os escritórios contábeis e o novo modelo de gestão


Uma profunda transformação em empresas de todos os portes, bem como nos escritórios prestadores de serviços contábeis, está a caminho. Trata-se de um parto, que em chinês significa mudança. Mas, no fundo, como tem data programada, pode ser encarada como a cesariana de um novo modelo de gestão. O primeiro sinal visível desta gestação começou para valer em setembro de 2006, com a autorização da primeira NF-e brasileira autorizada pela Sefaz-RS. Além da NF-e, também fazem parte do Sped a ECD, a EFD-ICMS/IPI, a EFD-PIS/Cofins, o CT-e, o e-Lalur, FCONT e outros.


Silenciosamente, o Sped, além de atuar fortemente no combate à sonegação e outras fraudes, age como catalisador no processo de introdução do Brasil na Era Digital, ou do Conhecimento - como prefiro chamar. Para se ter ideia da abrangência das transformações, além dos atuais 600 mil contribuintes emissores de NF-e, em janeiro de 2012, cerca de dois milhões de empresas estarão obrigadas a participar do Sped Fiscal.


O problema é que estas empresas, em geral sem controles informatizados, enviam informações aos seus contadores (90% dos quais terceirizados) por meio do famoso "envelope pardo", dentro do qual circulam informações sobre documentos fiscais, de forma precária, sem segurança e, muitas vezes, incompletas. Menos de 1% das empresas já compreendeu que é preciso utilizar a tecnologia para integrar e controlar os processos empresariais no mundo digital: implantaram os ERPs.

Entretanto, há ainda empresas que utilizam apenas as funções de controle operacional do ERP, deixando seus contadores processarem, em sistemas fiscais independentes, os arquivos do Sped. Neste caso, a troca de informações é digital, mas assíncrona, via arquivos. Para se transmitir o Sped ao fisco, utiliza-se o PVA - Programa Validador. Cada arquivo gerado deve ser submetido, no mínimo, ao PVA para verificação de conformidade do layout e de regras fiscais. Recomenda-se também uma análise sob as óticas fiscal, contábil e empresarial.


Esta análise será realizada por pessoas ou sistemas especializados no cruzamento de informações a fim de evitar falhas grosseiras - afinal, é exatamente isso que o fisco irá fazer para detectar erros ou fraudes. Assim, quase sempre será possível encontrar, ainda que tardiamente, um cadastro errado, um parâmetro desatualizado, um lapso operacional. A questão é: uma vez detectado o problema, como saneá-lo? Na origem operacional do dado ou no arquivo fiscal? Por isto, no mundo pós-Sped, todas as empresas deverão adotar ERP com funcionalidades operacionais e fiscais integradas.

Mas, e as empresas pequenas, que não têm profissionais nem estrutura de Tecnologia da Informação? A resposta está nas "nuvens", os famosos sistemas baseados em tecnologia "cloud", de forma a integrar operações e controles fiscais em um único banco de dados, através de serviços digitais que poderão ser acessados em qualquer lugar através de computadores e dispositivos móveis.


Assim como as instituições financeiras perceberam que a agência começa dentro de nossas empresas e criaram os sistemas de internet banking, os contadores devem compreender que seus escritórios começam dentro da empresa. A adaptação a esse novo modelo pode levar uma década, tal qual ocorreu no setor bancário. Ou não - depende da percepção da gravidade do risco fiscal por parte das empresas. E da possível e recomendável opção por um parto normal, mesmo que seja a fórceps, dependendo da complexidade do caso.


Roberto Dias Duarte

Professor, administrador de empresas, diretor acadêmico e cofundador da Escola de Negócios Contábeis (ENC) e membro do Conselho Consultivo da Mastermaq Softwares


Fonte: Jornal do Comércio - JC Contabilidade - Página 3 - 17/08/2011.





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